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Nossos passos vêm de longe

O Ilê Axé Omiojuarô, a ONG Criola e o NIREMA (PUC-Rio) organizaram um bate-papo com Patricia Hill Collins no último dia 23/10. O objetivo do encontro, que aconteceu no próprio Ilê, foi reunir a comunidade de axé para recepcioná-la, contar suas histórias, ouvir as dela, além de conversar sobre o novo livro que ainda está escrevendo e que trará a noção de Interseccionalidade Letal. 

É uma das intelectuais negras mais importantes da América e seus estudos sobre feminismo negro, interseccionalidade, entre outras temáticas, têm orientado a maioria das/os/es intelectuais negras/os/es no Brasil. ”Pudemos entremear os conceitos já desenvolvidos pela autora com as reflexões e práticas políticas que têm feito do povo de axé uma das mais bem acabadas representações da resistência negra no país.

Foi um momento único de troca de saberes, uma tarde de acolhimento, afeto, reflexão, dança, canto e muito axé!”, relatou a Professora Dra. e Ekedi do Ilê Omiojuarô, que é também, uma das responsáveis pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema) da PUC/RIO, Thula Pires.

Patricia Hill Collins é uma das grandes pensadoras e uma das maiores referências feministas negras em todo o mundo. Desde 1965, quando começou a cursar a faculdade de Sociologia na Universidade de Brandeis em Waltham, Massachusetts, se dedicou a desenvolver e promover estudos progressistas nas escolas da comunidade negra de Boston, tendo a partir daí sua dinâmica de trabalho bem característica: pesquisa acadêmica e trabalho comunitário.

Algumas de suas atuações de destaque foram como diretora do Centro Africano Americano na Universidade de Tufts, em Medford; na sequência solidificou ainda mais sua carreira no Departamento de Estudos Afro-Americanos da Universidade de Cincinnati, onde trabalhou por mais de 20 anos. Em 2005, Collins ingressou no departamento de sociologia da Universidade de Maryland como professora emérita, trabalhando questões de raça, pensamento feminista e teoria social. E então só no ano de 2009, a Associação Americana de Sociologia teve sua primeira mulher negra na presidência. 

Patricia já esteve no Brasil em outras ocasiões, buscando sempre o encontro com lideranças, movimentos, organizações negras e, em especial, mulheres negras. A coordenadora geral da ONG Criola, Lúcia Xavier, destacou a importância da visita da pensadora e das demais temáticas trazidas para a conversa com os religiosos e a comunidade de axé, como: violência, juventude e resistência política em contextos adversos. ”O encontro não contribui apenas em reflexão e pensamento das mulheres, mas também para nos ajudar a fortalecer estratégias de enfrentamento ao racismo patriarcal cis/hétero/normativo.

Ao mesmo tempo, também foi de suma importância saber as percepções dela pessoalmente. Foi muito importante ouvir diretamente dela que durante seus encontros com mães que foram atingidas pela violência do Estado, com mulheres de axé e mulheres com diferentes experiências de vida tem feito com que ela reflita muito sobre essas questões.E mais: também tem feito ela caminhar devagar no estudo de novas pesquisas visto o efeito e o impacto da violência entre nós”, revela a, também, Ekedi do Omiojuarô.    

Collins concebeu a teoria da interseccionalidade das formas de opressão – raça, classe, gênero e sexualidade – argumentando que essas ocorrem simultaneamente, constituindo-se como forças mutuamente constitutivas que compõem um sistema abrangente de poder. Em 1990, publicou o premiado Pensamento Feminista Negro. Patricia Hill Collins é considerada, ao lado de Angela Davis e bell hooks, uma das mais influentes pesquisadoras do feminismo negro nos Estados Unidos.

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