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Alajô, Ilê Omiojuaro e 37 anos de luta pelos direitos da população negra e uma sociedade sem violência

Mãe Beata de Iemanjá em toda sua história sempre reforçou a necessidade de afirmarmos nossa identidade no discurso e nas práticas, dentro e fora do terreiro. Para nós esses dois lugares não são distintos, a nossa casa se insere num contexto social e não de modo alheio. São 37 anos de luta pelos direitos da população negra e pelo bem viver. A defesa da natureza e do direito à prática da nossa fé são lutas inegociáveis aos filhos de Mãe Beata de Iemanjá e de Pai Adailton de Ogum, e, se fizeram presentes no nosso aniversário em 27 e 28 de abril deste 2022.

O Ilê Omiojuarô celebrou seus 37 anos de história fazendo uma série de atividades que foram de emissão de documentos para moradores de Miguel Couto a homenagens a figuras importantes dessa história e debates com personalidades do debate público, do movimento negro e dos povos de terreiro.

A ancestralidade, essencial para nós, também foi lembrada numa homenagem a Ogan Bangbala, que nos seus 103 anos preserva a memória do ogan mais antigo em vida no Brasil e que também compartilha de nossa comunidade, em seu discurso de agradecimento ao diploma entregue por Iyá Doya e Iyá Ivete, ele cantou para Iemanjá com o barracão lotado e disse “para tudo que existir nessa Casa eu esteja  junto com vocês, e vocês contem comigo”, nessa que também foi uma celebração para Xangô, de quem também são filhos: Iyá Ivete, a filha mais velha de Mãe Beata e o Ogan Aderbal Ashogun, o filho caçula, lembrado por Pai Adailton. 

O evento também contou com a participação da professora Helena Theodoro, Mãe Meninazinha de Oxum, Ekédi Lúcia Xavier, da jornalista Flávia Oliveira, Dom Filó, entre outras convidadas. O tom do encontro reforçou que é necessário reduzir a violência e agregar cada vez mais valores nossos como o bem viver, valores contracoloniais, aos aspectos cotidianos. Tanto na denúncia, combate e criação de estratégias contra o racismo religioso e racismo ambiental, como na manutenção da nossa memória e cultura.

O primeiro painel foi um debate sobre racismo religioso seguido pela discussão O poder das matriarcas, onde Flávia Oliveira alertou para a importância de sabermos nos proteger física, mental e espiritualmente em contextos adversos como o que vivemos no Rio e no Brasil. Ainda no primeiro dia das festividades, aconteceu a inauguração do busto Mãe Beata de Iemanjá, na praça Olhos d’água.

Na quinta-feira, tiveram mais dois painéis voltados para o tema dos Direitos Humanos e reforçando o ponto do racismo religioso em dois momentos, convocando o poder público à responsabilidade e celebrando outras iniciativas contra a violência aos terreiros, seus filhos e lideranças. 

Nesse momento, a Deputada Estadual Renata Souza fez o lançamento do Observatório do Racismo Religioso – Mãe Beata de Iemanjá, a parlamentar trouxe a necessidade de dentro da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Renata Souza organizou uma audiência pública no nosso terreiro, em 2019, onde surgiu o Projeto de Lei Abril Verde, que reivindica a agenda dos terreiros, um mês inteiro de prevenção ao racismo religioso com ações das instituições da administração pública fortalecendo o protagonismo das religiões de matriz africana. No rol dessas atividades está sendo lançada uma cartilha que auxilia na legalização de terreiros, produzida com a Comissão de Direitos Humanos a partir do mandato da parlamentar, por meio da ALERJ.

As falas foram uma grande conversa entre todas as convidadas e instigaram a luta, trazendo contribuições sobre novas práticas sociais, práticas nossas, onde a sociedade e a natureza são integradas. 

Sem folha não tem Orixá, sem natureza não tem humanidade. Após anos de pandemia e autoritarismos no Brasil, o terreiro uma vez mais e sempre é um espaço de aquilombamento, tecnologias ancestrais de cuidado, proteção e de luta.

* Jefferson Barbosa 

é jornalista do Coletivo PerifaConnection 

Abian do Ilê Omiojuarô

@jeffersonbarbosabr

@perifaconnection

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